26 de março de 2016

Conto: O enigma do outro lado da autora Stella Carr

Estratégia de Leitura:
A- Colocar o título no quadro e perguntar a respeito da palavra: Enigma. O que significa?
As crianças participarão, acredita-se que a maioria saiba o significado da palavra, se acaso não souberem, o professor pode pedir que alguém procure no dicionário e ler em voz alta para a classe toda. O professor ajuda-os a compreender e dar sentido ao título que foi escrito no quadro:
# Há um mistério do outro lado?
# Que lado é esse? Qual lugar?
Conforme as crianças vão falando, o professor as escuta e dá a seguinte devolutiva: “ Pode ser, quem pensa diferente?”
B- Revelar que o outro lado é: O outro lado da porta e contar que nessa leitura aparecerão quatro personagens.
# Que personagens vocês acreditam que possam compor esse conto?

C- Em seguida realizar a leitura com pausa protocolada ou leitura dialogada:
O enigma do outro lado
— De onde você vem, Nanico?
Magro, amarelo e muito comprido, Nanico estava um pouco curvado, cansado de tanto esperar.
— Venho da periferia, ali perto da estação. Éramos muitos irmãos, todos bem 
unidos.Os outros já se foram… fiquei só eu.(O que será que aconteceu com os irmãos de Nanico?)
Só de falar nisso, Nanico foi ficando pálido, com manchas escuras.
Zé Pereira entrou na conversa:
— Você parece doente, cara. Quem sabe com isso você escapa — o Zé falou, olhando para a porta fechada, que dava para o outro lado.
— É inútil resistir. Todos nós vamos ter que passar por aquela porta, mais cedo ou mais tarde. (O que vocês imaginam que acontece as personagens após passar pela porta?)
-Mas o que deixa a gente nervoso é a espera. Acaba-se ficando mole e não prestando mais pra nada! — Nanico gemeu , parecendo mais murcho e curvado.
— Que pessimismo é esse, Nanico? — perguntei, tentando animar o coitado, usando minha intuição feminina .
— É o calor, eu acho — o compridão respondeu.
— Ora, você devia estar acostumado, é de um país tropical… nós estrangeiros, habituados a
climas frios, é que sofremos mais — disse eu, sufocando, ficando mais vermelha do que já sou.
Zé Pereira remexeu-se inquieto, rolou o corpo um pouco para o lado e se queixou:
— Eu é que estou passando mal. Acidez, eu acho. Me trouxeram pra cá cedo demais… não era a minha hora.
— Você está impressionado com a espera, isso sim. Não quer confessar, mas está com medo — provocou Nanico.
— Vocês não entendem, eu sou do campo. Nasci na fazenda, ao ar livre. Aqui é úmido e abafado!
— Pois sei como você se sente. Também sou do campo — falei, tentando dar uma força ao companheiro. Zé Pereira respondeu:
— Ora, você não parece sentir a mudança. Continua gorda e rosada!
Ele estava de fato verde. Mas não notou que uma mancha escura e redonda já aparecia na minha pele avermelhada, um perigoso e alarmante sinal para a minha saúde.
Nanico levantou-se atento:
––Vocês ouviram o barulho do outro lado? Será que ele já vem?
Nanico se curvou ainda mais. Parecia ter um peso nas costas.
–– Fico pensando: qual de nós três irá primeiro? Ainda me lembro quando meus irmãos se foram. Naquele tempo não era ruim esperar, porque a gente não desconfiava. Estávamos todos felizes,como se fosse uma aventura! Tudo era novidade: a viagem, nossa chegada aqui… Então vieram buscar o primeiro. Foi minha irmã. E ela nunca mais voltou.
–– Não lembre coisas tristes, Nanico — eu falei, tremendo. Mas Nanico continuou:
–– Depois vieram buscar o segundo. E mais outro, e mais outro. Fiquei só eu! Me esqueceram, não sei por quê … Então chegaram vocês.
— O que será que acontece lá dentro? — Zé Pereira perguntou.
— Não sei. Só sei que ninguém volta. Quem passa por aquela porta fica — Nanico afirmou. (E vocês o que acham que acontece lá dentro?)
— Não pode ser tão ruim — eu comentei — , acho que estamos com medo à toda. Sabem de uma coisa? Vai ver que do outro lado não tem nada! ( e vocês concordam com essa personagem?)
Nisso a porta se abriu. Agarraram … (quem vocês imaginam que foi agarrado?) Zé Pereira e o levaram embora. E a porta se fechou de novo.
— Por que não me levaram? — gemeu Nanico. — Estou me sentindo tão mal ! Zé Pereira era tão jovem, até sofria de acidez…
— Quem pode saber? — eu falei.
— Zé Pereira, a essa hora, já sabe — respondeu Nanico.
— Mas não volta mais pra contar. Ninguém voltou até hoje — lembrei.
Nanico ficou em silêncio. Deitou o corpo de lado. Acho que até cochilou um pouco. Coitado! A espera estava acabando com ele. Já estava na sala quando eu cheguei. Sempre falando dos irmãos que se foram!
Nisso, a porta se abriu de novo, e dessa vez( quem será que foi levado?) levaram o Nanico. Fiquei sozinha, sem ninguém para conversar, esperando a minha vez…
A mancha escura em minha pele parecia ter aumentado, eu já não sentia a mesma disposição de antes. Não sei quanto tempo passou . O silêncio, a solidão aumentam o nervosismo e confundem a gente…
Finalmente, a porta se abriu e me agarraram também. Agora eu vou saber: vou descobrir o “grande segredo da vida”!( e o que vocês imaginam que ela vai descobrir?)
O outro lado é uma sala igual à primeira, mas tem uma mesa grande no meio, rodeada de cadeiras. Estou imobilizada …( em que lugar vocês imaginam que levaram a última personagem?) Com uma das mãos um homem me segura. Com a outra pega uma faca afiada.( o que vocês imaginam que o homem fazer com a personagem?)
E vai tirando em fatias a minha pele.
Depois, ele abre a boca com imensos dentes amarelos e vai se aproximando …(e agora o que vai acontecer?) Sinto o bafo, vejo a sua língua. Então me dá uma enorme dentada! (será que saberemos o segredo? — como? Agora, vamos ouvir o desfecho da história)
Mas eu ainda tenho tempo de ver, no prato sobre a mesa, a casca amarela e pintada do Nanico, o cabinho e os caroços do Zé Pereira.
— Então, é esse o destino das frutas?
Stella Carr. Assombrassustos. São Paulo: Moderna,1995.
D- Questionar se as crianças gostaram desse tipo de leitura, e se sabe qual é o Gênero Textual;
– Mediar a participação das crianças…
* Por que este texto não pode ser uma fábula?
– Porque não traz um ensinamento…
* É um conto de fadas? Não? Por que?
– Porque contos de fadas começam com era uma vez, tem reinos, princesas, magia, a luta entre o bem e o mal…
* Pode ser um poema?
– Não, porque não tem versos…
• Então o “ Enigma do Outro lado” pertence a qual Gênero Textual?
— Ao Gênero Contos de Mistério
1- Quem são os quatro personagens do texto?
2- No final o mistério foi revelado? O que havia atrás da porta?
3- Como são as características físicas e psicológicas apontadas para cada personagem de acordo com o texto?
Pessoa:
Banana:
Pera:
Maçã:
4- Qual personagem é mais otimista?
5- Quais palavras foram usadas para descrever que as frutas estavam com medo?
6- Preparar no caderno de descobertas um espaço para anotar em forma de lista expressões e palavras utilizadas para causar medo, suspense e mistério nos contos.
7- Crianças e professor poderão decorar a sala baseando nos Contos de Mistério, Podem ser decorados com gatos pretos, Lua Cheia, morcegos, teias de aranha, e tudo o mais o que as crianças trouxerem de ideia…
2- Diagnóstico
_ Escolher coletivamente com as crianças as personagens e local para eles produzirem um conto de mistério.
Nessa produção o professor pode analisar o que as crianças já sabem a respeito do Gênero.
O professor pode ainda guardar estas primeiras produções para, ao final da Sequência Didática, apresentar as crianças para que elas façam um comparativo entre o que sabiam e o que aprenderam.

SEQUÊNCIA DIDÁTICA: CONTOS DE MISTÉRIO

Etapas

1. Apresentação da proposta aos alunos.
2. Leitura prazerosa (diária ou por capítulos ampliação de repertório)
3. Leitura, compreensão e interpretação de contos de mistérios
4. Leitura de produção (ler para escrever – identificar os recursos que dão ao texto o status de boa qualidade, através de banco de dados ou listas)
5. Produzir uma galeria de personagens e ambientes (com legendas descritivas)
6. Planejar o conto
7. Produzir o conto
8. Revisar o conto
9 Ilustração do conto
10. Editar o conto
11. Escolha do conto a ser dramatizado
12. Elaboração coletiva da apresentação do livro e do teatro do conto escolhido,
13. Convite (para o lançamento do livro na biblioteca central da escola)
14. Apresentação do teatro e do livro na biblioteca da escola.

20 de março de 2016

Trabalhando pontuação.

JOGRAL DA PONTUAÇÃO
               GRAÇA BATITUCI
SOU UM PINGUINHO LEGAL,
DOU UM FIM A UM PENSAMENTO.
MEU NOME É PONTO FINAL.
ESTÃO ME CHAMANDO...UM MOMENTO.

SOU MUITO CURIOSO.
TUDO, TUDO, QUERO SABER.
POR ISSO SEMPRE APAREÇO,
NO FIM DE PERGUNTAS, QUEREM VER?

ADMIRAÇÃO, MEDO, ESPANTO.
ALEGRIA, DOR E SURPRESA.
SOU O PONTO DE EXCLAMAÇÃO.
E NA FRASE FICO UMA BELEZA!

SE ALGUÉM ME PERGUNTAR:
QUEM É VOCÊ, SEU ZEZINHO?
EU SOU OS DOIS PONTOS:
MOSTRO QUE A FALA ESTÁ A CAMINHO.

SOU UM TRACINHO PEQUENO,
USADO SEMPRE EM DIÁLOGOS.
INDICAR A FALA DE ALGUÉM,
É BOM, E EU NÃO ME CALO.

Vamos pontuar esse texto? A quem ele deixará a fortuna?


O Mistério da Herança
 Um homem rico estava muito mal, agonizando. Dono de uma grande fortuna, não teve tempo de fazer o seu testamento. Lembrou, nos momentos finais, que precisava fazer isso. Pediu, então, papel e caneta. Só que, com a ansiedade em que estava para deixar tudo resolvido, acabou complicando ainda mais a situação, pois deixou um testamento sem nenhuma pontuação. Escreveu assim:
'Deixo meus bens a minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do padeiro nada dou aos pobres.' 
 Morreu, antes de fazer a pontuação.




PONTUAÇÃO

   PONTUAÇÃO É A UTILIZAÇÃO DE SINAIS GRÁFICOS PARA AUXILIAR A COMPREENSÃO DA LEITURA. OS SINAIS DE PONTUAÇÃO SÃO:
·(.) PONTO FINAL: QUE APONTA O FINAL DE UMA FRASE.
·(,) VÍRGULA: INDICA UMA PAUSA NA LEITURA.
·(;) PONTO-E-VÍRGULA: APONTA UMA PAUSA MAIOR QUE UMA VÍRGULA.
·(:) DOIS PONTOS: É USADO PARA INICIAR UMA EXPLICAÇÃO.
·(?) PONTO DE INTERROGAÇÃO: É COLOCADO NO FINAL DA FRASE E INDICA UMA PERGUNTA.
·(!) PONTO DE EXCLAMAÇÃO: MOSTRA ESPANTO, ADMIRAÇÃO, SURPRESA, ETC.
·(  – ) TRAVESSÃO: USAMOS NO INICIO DE DIÁLOGOS OU PARA DESTACAR PARTES DE UMA FRASE.

EXERCÍCIOS

1)    PONTUE AS FRASES ABAIXO ADEQUADAMENTE:

A)   MARIA E JOANA FORAM AO TEATRO
B)   CAMILA COMPROU UMA CALÇA UMA BLUSA E UMA SANDÁLIA
C)   QUE DIA É HOJE
D)   OLHA QUE CARRO LINDO
E)   MAMÃE DISSE
VOCÊ JÁ JANTOU
F)   QUE FILME MARAVILHOSO
G)   NÃO VOU AO CINEMA
H)   CARLOS VENHA ALMOÇAR

2)    COMPLETE O TEXTO ABAIXO COM A PONTUAÇÃO CORRETA:

MEU AMIGO LANÇA FORA ___ ALEGREMENTE ___ O JORNAL QUE ESTÁ LENDO E DIZ___
___ CHEGA ___ HOUVE UM DESASTRE DE TEM NA FRANÇA ___ UM ACIDENTE DE MINA NA INGLATERRA ___ UM SURTO DE PESTE NA ÍNDIA ___ VOCÊ ACREDITA NISSO QUE OS JORNAIS DIZEM ___ SERÁ O MUNDO ASSIM ___ UMA BOLA CONFUSA ___ ONDE ACONTECEM UNICAMENTE DESASTRES E DESGRAÇAS ___ NÃO ___ OS JORNAIS É QUE FALSIFICAM A IMAGEM DO MUNDO ___
MAIS OPÇÕES:
Piada para pontuar:
A dona de casa falando com o açougueiro:
— Quanto está o quilo da carne de segunda___
— Quatro e oitenta e cinco___
— Credo, que roubo___ O senhor não tem coração___
— Tenho sim, dona___ Tá quatro e cinqüenta___



O amigo da onça
Dois caçadores dividem uma barraca
Um deles pergunta
E se aparecesse uma onça agora
Eu dava um tiro nela
E se você estivesse sem arma
 E sevocê estivesse sem facão
Eu subia numa árvore
E se não tivesse árvore
Eu corria
E
se você estivesse paralisado de medo
Pô, você é meu amigo ou amigo da onça

A FESTA NO CÉU
Havia uma festa no céu         O sapo cururu não foi convidado           Ele falou para o urubu       
      Será que eu não fui convidado porque não sei voar       
      No dia seguinte ele tomou uma decisão e falou
     Já sei           Vou me esconder na viola do urubu
Mas o urubu descobriu o sapo no seu violão

O sapo percebeu a raiva do urubu e berrou
     Não me jogue na lagoa, senão eu morro          Jogue-me nas pedras

O urubu pra contrariar o sapo, jogou-o na lagoa e o sapo ficou bem feliz

Que urubu bobo         O sapo enganou um bobo na casca do ovo



A mãe pergunta ao filho Pra que você quer dinheiro Juquinha responde Pra dar a um velhinho A mãe continua Muito bem E quem é  esse velhinho Juquinha explica É aquele que grita Olha a pipoca quentinha

O Juquinha reclama com a mãe Ô mãe Tem uma mosca dentro da minha sopa O irmãozinho mais novo interrompe Não liga não Mosca não come muito

A mãe fala para o filho Dona Mariquinha veio se queixar que você quebrou a vidraça da casa dela... é verdade Foi um acidente mamãe Mas como aconteceu Eu estava arrumando o estilingue e ele disparou

O guarda chegou para o pescador dizendo que era proibido pescar Mas eu não estou pescando Como não Não está com a vara na mão  Estou E na ponta da vara não tem uma linha Tem e no final da linha não tem um anzol Tem sim E no anzol não tem uma minhoca Tem sim senhor E a minhoca não está dentro da água Está Então O senhor está pescando Não senhor Estou dando banho na minhoca

A vizinha chega na casa de Doca e pergunta Quem quebrou o vidro da minha janela Foi o meu irmão Responde Doca E como ele fez isso Ele se abaixou bem na hora que eu joguei uma pedra nele

O médico pergunta ao louco Diga-me às vezes o senhor ouve uma voz sem saber de quem é e nem de onde vem Sim senhor Justamente o que eu julgava E quando acontece isso Quando atendo o telefone

A professora perguntou à menina Onde está Deus Ela respondeu No banheiro da minha casa porque eu sempre escuto minha mãe dizendo Meu Deus você ainda está no chuveiro

Um sujeito telefonava para o consultório médico  Quero marcar uma consulta para amanhã Sinto muito senhor Só temos vaga para daqui  quinze dias Mas até lá eu posso estar morto Neste caso mande alguém ligar e desmarcar a consulta


4 de março de 2016

Atividades com o conto "O último cuba -libre" Marcos Rey

O Último Cuba-libre
Marcos Rey
Durante o dia, Adão Flores era um gordo como qualquer outro. Sua atividade e seu charme começavam depois das 22 horas e às vezes até mais tarde. Então era visto levando seus 120 quilos às boates, bistrôs e inferninhos da cidade, profissionalmente, pois não só gostava da noite como também vivia dela. Empresário de modestos espetáculos, era a salvação última de cantores, mágicos, humoristas decadentes. […]
Como o tempo, Adão Flores adquiriu outra profissão, paralela à de empresário da noite, a de detetive particular, mas sem placa na porta e mesmo sem porta, atividade restrita apenas a cenários noturnos e pessoas conhecidas. Apesar de agir esporadicamente e circunscrito a poucos quarteirões, Adão Flores começou a ganhar certa fama graças a um jornalista, Lauro de Freitas, que começava a fazer dele personagem frequente em sua coluna, a ponto de muita gente supor tratar-se de ficção e mais nada.
Adão Flores apareceu no “Yes-Club”, cumprindo seu itinerário habitual. Rara era a noite em que não comparecia ao tradicional estabelecimento da Bianca, onde seus casos tinham grande repercussão […]. Mas nem teve tempo de sentar-se. Uma mulher, nervosíssima, que já o aguardava, aproximou-se dele um tanto ofegante.
– Lembra-se de mim, Adão?
– Estela Lins?! Como vai o malandro do seu marido? Anda sumido!
– É por causa dele que estou aqui. Adão, você pode me acompanhar? Meu carro está na porta. É um caso grave.
– O que aconteceu?
– Direi tudo no carro.
Júlio Barrios, mexicano, cantor de boleros, fora um dos contratados de Adão que mais lhe deram dinheiro nos quase dez anos que estivera sob contrato. […] Quando o público se cansou dele, Flores levou-o às churrascarias, salões da periferia e cidades do interior, etapas do declínio de qualquer cantor. Júlio não se abateu totalmente, pois, enquanto tivesse uma mulher apaixonada a seu lado, podia levar a vida.
Estela dirigia atabalhoadamente um fusca em estado de desmaterialização.
– Disse que Júlio está assustado?
– Disse apavorado.
– Por quê?
– Telefonemas ameaçadores.
– Quem seria a pessoa?
– Ele diz que não sabe.
– Mas você acha que sim.
– Pode ser algum traficante de drogas.
– Ora, Júlio nunca mexeu com isso. Trabalhamos juntos anos a fio e nunca o vi cheirar nada suspeito. Sua obsessão sempre foi outra…
O que o empresário-detetive imaginava era a ameaça de algum marido ou amante ciumento, daí Júlio não revelar nada a Estela, sua terceira ou quarta mulher desde que chegara ao Brasil. Apesar da decadência artística Júlio continuava bem-sucedido nessa modalidade esportiva. […]
– Júlio sabe que veio me buscar?
– Sabe. Disse que quer tomar um cuba-libre com você, como nos velhos tempos.
– Espero que ele não acredite muito na coluna do Lauro de Freitas. Não sou tão bom detetive assim.
– Estamos chegando.
Estela estacionou o carro diante de um pequeno edifício de três andares. O casal morava no primeiro, cujas luzes estavam acesas.[…] A mulher abriu a porta, […] indicou um velho divã ao empresário. Foi se dirigindo ao interi or do apartamento, an unciando:
– Adão está aqui, querido!< br />O empresário-detetive largou todo o seu peso numa mirrada poltrona, que protestou, rangendo. Não conhecia aquele apartamento. Júlio, sempre que mudava de mulher, mudava também de endereço.[…]
– Quem é o senhor? – Adão ouviu de repente a voz de Estela, vinda do quarto, em tom de pavor. – O que faz aqui?
Adão levantou-se: algo de anormal acontecia.
Novamente a voz de Estela, agora num grito:
– Juuuulio!
Adão deu uns passos enquanto Estela aparecia à porta do quarto, tentando dizer alguma coisa. O detetive entrou precipitadamente. A primeira imagem que viu foi Júlio sobre a cama, ensanguentado.
Estela apontou para a janela aberta.
– Ele fugiu!
Adão correu para sala e Estela abriu a porta do apartamento. Os dois precipitaram-se para a rua, ela na frente. Logo adiante havia uma esquina, que o criminoso já devia ter dobrado. Estela segurou Adão pelo braço.
– Vamos socorrer Júlio.
Regressaram ao apartamento. A lâmina toda de uma tesoura comprida estava enterrada nas costas de Júlio. O detetive apalpou-lhe o peito. O coração já não batia nem no ritmo lento do bolero.
Enquanto a polícia não chegava, Adão dava uma olhada no quarto. Estela, em prantos, aguardava a presença do cunhado, um de seus únicos parentes. Flores notou que algumas gavetas de uma cômoda estavam abertas. O criminoso estivera procurando alguma coisa. No peitoril da janela, um pouco de terra, certamente deixada pelos sapatos do homem que saltara. E sobre o criado-mudo um copo, o último cuba-libre que Júlio não terminara de beber. Sem gelo. Quem tomaria um cuba sem gelo num calor daquele? Foi ao encontro de Estela, na sala, e a achou dobrada sobre o divã.
– Gostaria de conversar com o zelador.
– O prédio não tem zelador, apenas uma faxineira no período da manhã.
– Acha que poderia reconhecer o homem?
– Nunca mais o esquecerei – garantiu Estela. – Era baixo, troncudo e tinha os olhos puxados.
– Já o vira antes?
– Não.
Adão retornou ao quarto, para dar mais uma espiada. Dali a instantes a polícia chegou: um delegado e dois tiras.
– Não mexi em nada – disse Flores. – E cuidado com o peitoril da janela. Há terra de sapato nele. Foi por onde o criminoso fugiu.
– O senhor o viu?
– Não, mas dona Estela poderá ajudar a fazer o retrato falado dele. Ela o encontrou no quarto de Júlio.
O delegado encarou o detetive.
– Você não é um tal Adão Flores, metido a Sherlock?
– Sou esse tal, mas vim aqui como amigo, chamado por Estela. Julio tinha recebido uns telefonemas ameaçadores.
Adão deixou os tiras trabalharem e saiu do quarto. O criminoso saltara da janela para um corredor cimentado que rodeava o edifício. Para baixo o santo tinha ajudado, mas subir pela janela teria sido difícil. Certamente ele tocara a campainha e entrara pela porta. Antes, porém, pisara em algum jardim, como atestava a terra do peitoril. Havia jardim à entrada do edifício?
Um dos tiras apareceu à porta com uma pergunta.
– O senhor deixou uma ponta de cigarro no cinzeiro? Há duas lá, mas só uma é da marca que Julio fumava.
– Só fumo em reuniões ecológicas. O criminoso deve ter tido tempo para fumar um cigarro. Só pode ter sido ele, pois Estela não fuma.
Adão permaneceu no apartamento até a chegada da Polícia Técnica, quando Estela Lins, no bagaço, foi levada pelo cunhado, que, antes de sair, declarou com todas as letras:
– Julio bem que mereceu isso. Um vagabundo, um explorador de mulheres! A polícia não devia perder tempo procurando o assassino.
Já era madrugada quando Flores retornou ao “Yes-Club”. […] Contou a todos o que sucedera, recebendo em troca uma informação. Julio Barrios aparecera por lá, naquela semana, muito feliz. Uma gravadora resolvera lançar um elepê com seus maiores sucessos, Recuerdos, no qual depositava muitas esperanças. Planejava inclusive pintar os cabelos pa ra renovar o visual. E stava animadíssimo.No dia seguinte, Adão Fl ores compareceu à polícia para prestar depoimento. Estela, por sua vez, estava cooperando. O retrato falado do criminoso já estava pronto e sairia em todos os jornais. O delegado, porém, já manifestava uma suspeita.
– Não gostei da cara daquele cunhado. Estela pode até estar tentando protegê-lo.
– Não creio – replicou Adão. – Era apaixonada pelo cantor.
– Mas amores passam – comentou o delegado. – Como certas modas musicais…
Adão Flores foi ao jornal onde trabalhava Lauro de Freitas.
– Quantos quilos você pesa, Lauro?
– Acha que estou engordando?
– Que mal há nisso? Os gordos são belos.
– Setenta quilos.
– Então, venha.
– Onde?
– Você tem o mesmo peso do homem que matou Barrios, segundo declaração de Estela na delegacia.
– E isso me torna um suspeito?
– Vamos ao apartamento.
À porta do edifício, Adão identificou-se a um guarda, que vigiava o lugar desde o assassinato. Não foi fácil convencê-lo a deixar que o detetive e o jornalista entrassem no apartamento.
– Estamos aqui. E agora, Adão?
– Você vai fazer uma coisa, Lauro: saltar do peitoril da janela para o corredor.
Abriram a janela e o jornalista espiou.
– Altinho. Posso sentar no peitoril?
– Não, suba nele e salte.
– E se o pára-quedas não abrir?
– Não salte ainda. Vou para a sala. Aguarde minhas ordens, então salte e corra até a entrada do edifício.
Adão voltou para a sala, deu as instruções e ficou atento. Ouviu o baque dos pés de Lauro no cimento e, em seguida, seus passos rumo ao portão. Pouco depois, Lauro voltou à sala.
– O que quer mais? Sei plantar bananeira.
– Como atleta amador você não pode ser pago. Mas vou lhe fornecer uma bela história para sua indigna coluna. Não tire os olhos de mim. Agora vamos à gravadora Metrópole.
– Por quê?
– Porque quero pôr na cadeia a pessoa que matou o melhor intérprete de “Perfume de Gardênia”. Quem fez isso é meu inimigo pessoal. Não se apaga assim um parágrafo da História.
Adão e Lauro foram à gravadora, onde o detetive conversou com o diretor-artístico. Sim, Barrios ia gravar mesmo um elepê. Esperavam vendê-lo para uns cem mil saudosistas. E o homem fez mais, forneceu certo endereço que Flores considerou importantíssimo.
Quando os jornais revelaram o assassino de Julio Barrios, a melhor reportagem certamente foi a de Lauro de Freitas, por dentro de tudo. […]
Mas o local onde seus casos mais repercutiam era mesmo o “Yes-Club” […]. Na véspera, antes de que os jornais publicassem a solução do enigma, Adão esteve lá para contar tudo em primeira mão.
– Em que momento você começou a puxar o fio da meada? – perguntou a dona da casa.
– Sou um homem do visual, da imagem – disse Flores. – Aquele cuba-libre sem gelo me chamou logo a atenção. Julio gostava de colocar verdadeiros icebergs nas suas bebidas. Como não havia mais gelo e o copo voltara à temperatura ambiente, deduzi que o crime tinha acontecido há algum tempo. Uma hora, talvez…
– Não me parece argumento suficiente para levar a conclusões – disse um homem, provavelmente um desses invejosos que estão em toda parte.
– Certamente não foi minha única dedução. Havia aquela tesoura, arma ocasional demais para servir a um criminoso determinado, que fazia ameaças telefônicas.
O mesmo freguês, que se recusava a bater palmas para Adão, voltou a obstar:
– Usar armas da casa é um meio para implicar inocentes. Os romances policiais sempre relatam coisas assim.
– Uma tesoura não oferece segurança – replicou Flores. – A não ser que o criminoso tivesse sido um alfaiate…
Bianca tinha outra pergunta a fazer:
– Houve roubo? As gavetas estavam todas abertas, não?
– Elas não foram simplesmente abertas, algumas estavam vazias. E sabem quem as esvaziara? O próprio Julio.
– O que havia nessas gavetas? – perguntaram. – Tóxico?
– Roupas, simplesmente roupas. Encontrei-as em uma pequena mala. Mas me deixem prosseguir. O que consolidou minhas suspeitas foi uma questão de acústica.
– Disse acústica?
– Disse. Aí o nosso Lauro ajudou muito. Seu peso equivale ao do homem visto por Estela. Fui com o Lauro ao apartamento do Julio e pedi que saltasse da janela e depois corresse até o portão. Eu me plantei na sala, como na noite do crime. E ouvi perfeitamente o baque e depois os passos de seus pés no cimento. Como naquela noite eu não ouvira nada?
– Então você teve a certeza – adiantou-se Bianca.
– Faltavam ainda os motivos. Na gravadora fiquei sabendo que Barrios andava aparecendo na companhia de uma jovem, seu novo amor. E obtive o endereço dela, pois era para ela que telefonavam quando precisavam contactá-lo. Fui procurá-la. Estava muito assustada com tudo, mas acabou se abrindo. Ela e Barrios iam viver juntos. Apenas faltava-lhe fazer a mala.
– E a confissão, veio fácil? – perguntou Bianca, equilibrada em sua piteira.
– Aconteceu na própria polícia onde fora olhar alguns suspeitos na passarela. Pretexto. O delegado já aceitara meu ponto de vista. Eu próprio lhe contei minha versão: Estela surpreendera Julio quando jogava roupas na mala para sumir. Espremeu-o. Ele confessou. Ia deixá-la por outra mulher. O amor é algo inesperado e o coração é fraco. Ela não gostou da letra desse bolero. Julio vivia praticamente à custa dela. Viu a tesoura sobre a mesa. Golpeou-o p elas costas. Depois do ch oque, pensou em livrar a cara. Havia terra nu ma floreira. Levou um pouco para o peitoril da janela. Deixou as gavetas abertas como estavam. E serviu um cuba-libre ao defunto. Antes ou depois, lembrou-se de Adão das Flores. Ele tinha mania de bancar o detetive. Julio sempre ria disso. Decidiu ir buscá-lo. Se o encontrasse, a encenação seria perfeita. Quanto à segunda ponta de cigarro, ela mesma esclareceu que a apanhara no “Yes”, enquanto esperava o detetive. Queria que ficasse bem claro que outra pessoa estivera com Julio. Enquanto isso o gelo do último cuba-libre derretia, pois o cadáver não podia renová-lo.
– Ela agiu como uma perfeita atriz – comentou Bianca. – E que grande talento!
Adão concordou:
– Apenas participei como ator convidado.
Histórias de detetive
Conan Doyle, Medeiros e Albuquerque, Edgar Allan Poe, Jerônimo Monteiro, Marcos Rey e Edgar Wallace
139 páginas
PRODUÇÃO DE TEXTO
Após a leitura do conto O último Cuba-libre, de Marcos Rey, escrevam um texto curto registrando suas impressões sobre a história. Orientem-se nas seguintes questões:
Descobriram o culpado antes do final da narrativa?
Como vocês conseguiram isso?
Quais os indícios constituíram peças fundamentais para essa descoberta?
Que provas o investigador, utilizou para comprovar seu argumento sobre o culpado?
Como o personagem foi caracterizado para que pudesse ser considerado suspeito?
Qual a diferença entre personagem suspeito e personagem culpado?


3 de março de 2016

Como deveria ser os livros de poemas?

Da paginação
Os livros de poemas devem ter margens largas e muitas páginas em branco e suficientes claros nas páginas impressas, para que as crianças possam enchê-los de desenhos - gatos, homens, aviões, casas, chaminés, árvores, luas, pontes, automóveis, cachorros, cavalos, bois, tranças, estrelas - que passarão também a fazer parte dos poemas...
_______Mario Quintana - A Rua dos Cataventos






Canção da garoa -Mario Quintana
Em cima do telhado
Pirulin lulin lulin,
Um anjo, todo molhado,
Soluça no seu flautim.

O relógio vai bater:
As molas rangem sem fim.
O retrato na parede
Fica olhando para mim.

E chove sem saber porquê
E tudo foi sempre assim!
Parece que vou sofrer:
Pirulin lulin lulin...

Publicado no livro: Canções de 1.946
DORME RUAZINHA… É TUDO ESCURO!…
Mario Quintana
Dorme ruazinha… É tudo escuro…
E os meus passos, quem é que pode ouvi-los?
Dorme teu sono sossegado e puro,
Com teus lampiões, com teus jardins tranqüilos…
Dorme… Não há ladrões, eu te asseguro…
Nem guardas para acaso perseguí-los…
Na noite alta, como sobre um muro,
As estrelinhas cantam como grilos…
O vento está dormindo na calçada,
O vento enovelou-se como um cão…
Dorme, ruazinha… Não há nada…
Só os meus passos… Mas tão leves são,
Que até parecem, pela madrugada,
Os da minha futura assombração…

Do livro: Antologia poética para a infância e a juventude, Ed. Henriqueta Lisboa, Rio de Janeiro, INL:1961.

Canção de nuvem e vento
Mario Quintana -

Medo da nuvem
Medo Medo
Medo da nuvem que vai crescendo
Que vai se abrindo
Que não se sabe
O que vai saindo
Medo da nuvem Nuvem Nuvem
Medo do vento
Medo Medo
Medo do vento que vai ventando
Que vai falando
Que não se sabe
O que vai dizendo
Medo do vento Vento Vento
Medo do gesto
mudo
Medo da fala
Surda
Que vai movendo
Que vai dizendo
Que não se sabe
Que bem se sabe
Que tudo é nuvem que tudo é vento
Nuvem e vento Vento Vento!
Publicado no livro: Canções - 1.946

"A gente não sabia"-
Mario Quintana
A gente ainda não sabia que a Terra era redonda.
E pensava-se que nalgum lugar, muito longe,
Deveria haver num velho poste uma tabuleta qualquer
— uma tabuleta meio torta. E onde se lia, em letras rústicas: FIM DO MUNDO.

Ah! Depois nos ensinaram que o mundo não tem fim
E não havia remédio senão irmos andando às tontas
Como formigas na casca de uma laranja.
Como era possível, como era possível, meu Deus,
Viver naquela confusão?
Foi por isso que estabelecemos uma porção de fins de mundo…

Publicado no livro: Nariz de vidro – 1984


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